NOSSOS MORTOS / 2018
Nossos Mortos traz a voz de Antígona articulada às inúmeras histórias dos massacres a movimentos populares, especialmente o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, em Crato, Ceará. Antígona é uma tragédia sobre uma irmã que deseja enterrar o irmão e sobre o tio dela, agora feito general, que a impede de enterrá-lo. É também sobre como o palco da política está infestado com o cheiro podre dos cadáveres esquecidos. Nesse espetáculo, abordamos duplamente o massacre do Caldeirão e o mito de Antígona, em uma operação interessada em desenterrar uma das inúmeras histórias brasileiras que ainda precisam ser contadas, assim como precisam ser devidamente sepultados os corpos abandonados de seu povo.
O projeto surgiu do desejo de aprofundar e desenvolver algumas das experimentações realizadas durante uma viagem de 28 dias por três regiões do semiárido nordestino em 2015. A viagem aconteceu como fruto de um projeto de pesquisa contemplado pelo Rumos Itaú, que se chamava Sete Estrelas do Grande Carro. Nessa viagem, questões que envolvem os massacres de Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, no Crato-CE e de Canudos, no sertão da Bahia, se fundiram à tragicidade exposta no mito de Antígona.
O espetáculo se centra no corpo-voz das atrizes Ana Luiza Rios e Loreta Dialla, explorando a fala, o canto e a ambiência sonora, em uma pesquisa conduzida pela encenadora Fran Teixeira e pela diretora musical Consiglia Latorre. A encenação se sustenta a partir do que acreditamos ser essencial para a construção das cenas e atuações, com intenso caráter narrativo. As decisões estéticas pelo uso de elementos pontuais de cenografia, luz e vestuário ajudam a enfatizar as sonoridades e as potencialidades da voz como veículos para a denúncia e o documento.
Sobre o Caldeirão
A comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi criada em meados de 1926, em um sítio na cidade de Crato, na região sul do Estado do Ceará. A comunidade formada por trabalhadores do campo sob liderança do Beato José Lourenço se estabeleceu em terras que foram confiadas a ele pelo Padre Cícero. O Beato foi um importante líder que defendia que o progresso de uma comunidade rural se baseava em regimes coletivos e organizados de trabalho. A auto-suficiência que o Caldeirão atingiu (lá se produzia vestimentas e ferramentas também) chamava a atenção de romeiros que cada vez mais migravam para a região de Juazeiro do Norte, a fim de amenizar - através da fé e do trabalho - o sofrimento causado pela seca e pela expropriação e exploração nos grandes latifúndios do nordeste brasileiro. Tal forma comunitária foi massacrada em 1937 pelo governo brasileiro e os corpos dos camponeses e crianças assassinados foram depositados em uma suposta vala comum, até hoje não identificada. Como luta de referência, a experiência do Caldeirão mobilizou a reocupação daquela região e, após bastante resistência de camponeses identificados com a luta pela terra, a posse das Fazendas Gerais e Carnaúba Gerais foi dada aos trabalhadores sem terra em 1991, que passaram a chamá-la de Assentamento 10 de Abril.
O projeto surgiu do desejo de aprofundar e desenvolver algumas das experimentações realizadas durante uma viagem de 28 dias por três regiões do semiárido nordestino em 2015. A viagem aconteceu como fruto de um projeto de pesquisa contemplado pelo Rumos Itaú, que se chamava Sete Estrelas do Grande Carro. Nessa viagem, questões que envolvem os massacres de Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, no Crato-CE e de Canudos, no sertão da Bahia, se fundiram à tragicidade exposta no mito de Antígona.
O espetáculo se centra no corpo-voz das atrizes Ana Luiza Rios e Loreta Dialla, explorando a fala, o canto e a ambiência sonora, em uma pesquisa conduzida pela encenadora Fran Teixeira e pela diretora musical Consiglia Latorre. A encenação se sustenta a partir do que acreditamos ser essencial para a construção das cenas e atuações, com intenso caráter narrativo. As decisões estéticas pelo uso de elementos pontuais de cenografia, luz e vestuário ajudam a enfatizar as sonoridades e as potencialidades da voz como veículos para a denúncia e o documento.
Sobre o Caldeirão
A comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi criada em meados de 1926, em um sítio na cidade de Crato, na região sul do Estado do Ceará. A comunidade formada por trabalhadores do campo sob liderança do Beato José Lourenço se estabeleceu em terras que foram confiadas a ele pelo Padre Cícero. O Beato foi um importante líder que defendia que o progresso de uma comunidade rural se baseava em regimes coletivos e organizados de trabalho. A auto-suficiência que o Caldeirão atingiu (lá se produzia vestimentas e ferramentas também) chamava a atenção de romeiros que cada vez mais migravam para a região de Juazeiro do Norte, a fim de amenizar - através da fé e do trabalho - o sofrimento causado pela seca e pela expropriação e exploração nos grandes latifúndios do nordeste brasileiro. Tal forma comunitária foi massacrada em 1937 pelo governo brasileiro e os corpos dos camponeses e crianças assassinados foram depositados em uma suposta vala comum, até hoje não identificada. Como luta de referência, a experiência do Caldeirão mobilizou a reocupação daquela região e, após bastante resistência de camponeses identificados com a luta pela terra, a posse das Fazendas Gerais e Carnaúba Gerais foi dada aos trabalhadores sem terra em 1991, que passaram a chamá-la de Assentamento 10 de Abril.
Ficha técnica Com Ana Luiza Rios e Loreta Dialla Direção: Fran Teixeira Direção musical e Preparação vocal: Consiglia Latorre Dramaturgia e Produção: Teatro Máquina Tutoria: Tânia Farias Música e som ao vivo: Ayrton Pessoa Bob, Di Freitas e Levy Mota Rabeca de cabaça: Di Freitas Preparação corporal: Fabiano Veríssimo e Márcio Medeiros Desenhos: Marina de Botas e Simone Barreto Figurino: Diogo Costa Desenho de luz: Walter Façanha Cenografia e arte gráfica: Frederico Teixeira Assistência de cenografia: Marina de Botas Fotos: Luiz Alves